Pra' Sempre


pra'sempre o nosso mundo inquieto 
e"diferente"há-de existir... e bater 
pé no palco d'alguma vivência anterior 
"capaz de derrubar de horror" 
quem é como nós mas não vê amor e fé 
"em tudo o que faz"em tudo, 
"o que sente"nos bons espíritos 
velhos,velhos de adolescentes 
que não cresceram e ficaram 
"pra sempre","pra sempre" 
presos na Terra do Nunca...pra sempre..

. 

Jorge Santos (até sempre)




Faro/Cantábrico

Faro/Cantábrico
Bamboleando por Alentejos Sadinos  e águas salobras depressa o comboio ganhou nas curvas  as planícies verdes e solestícias com destino a Faro ,chegou às previstas 17:30
Foi hora de montar a bicicleta em sentido literal porque a transportou desmontada como mandam as regras e fisicamente também pois foi subindo sempre em direcção A barranco do Velho onde chegou  de noite, tinha de descansar e nada melhor que um alpendre abrigado da chuva miúda e impertinente que caía e caía sem dó, não havia a prevista e habitual escola “antigo regime” mas um centro social serviu o propósito que era simplesmente dormir.
Pelas seis Horas da madrugada  inicia-se o percurso incerto que o levaria até ao outro mar bem mais a norte ,o Cantábrico, lado oposto da Península e a cerca de mil quilómetros de distancia , em outras etapas.
O sol descobria uma esguia silhueta de ciclista que se projectava agora para a esquerda e abrangia toda uma serra silvestre e verde  embora por curto espaço de tempo, o Caldeirão era incandescente e habitualmente seco como um deserto e vermelho como o fogo  que insistia em labaredas e persistia anos e anos a fio esta desertificação, os cheiros agora eram de estevas e humidade fresca, até perto do meio dia e aí já sem a referida sombra.
As cegonhas perderam o nomadismo e nestas terras malditas e ditas sem sombra não trouxeram mais almas nem devolveram as emigradas nem as ninhadas destas trouxeram filhos, ficaram os velhos e doentes mirando horizontes planos sem vivalma.
Era dia dos cravos (2010) mas as revoluções esqueceram-nos , ficaram-se por comemorações vazias de significado ,por todas as localidades onde ainda havia gente e trabalho as autarquias empenhavam-se em  manter  a chama  tardia.
A distancia até aos cem quilómetros pareceu curta, as pernas respondiam á frenética vontade de pedalar, parecia que o destino estava ganho, faltava metade e o acumular de esforço iria tornar-se dilacerante para os músculos ainda recentemente repousados por um inverno assaz longo .
A estrada nacional 2 em mau estado no distrito de Setúbal baixaria a media que teimava manter-se teimosamente nos 22 km hora, depois ainda ficava no caminho uma pequena serra já no fim do percurso, Monfurado estava posta ali mesmo antes do final desta etapa em Montemor-o-novo e parecia um interminável obstáculo.
Chegando ao termino e esticar-se na relva do pequeno jardim à entrada de Montemor avalia o que já fizera em termos Peninsulares, desde a tentativa de atravessar os Pirenéus do Atlântico ao Mediterrâneo no mais curto espaço de tempo ou seja 14 dias (faltavam-lhe 10 dias), O caminho de Santiago Francês em sete dias (faltavam três dias para finalizar), planeia a continuação até Chaves e ao Cantábrico mas não sem duvidar um pouco da sua boa sanidade mental que o levava e ele e ao corpo até ao limite, sem razão ou recompensa aparente que não fosse aquele sentimento de “dever”cumprido,mas qual dever? deveria isso a ele próprio ?(por egoísmo) ou sentia-se na obrigação de superar todos os outros “eus”que o afligiam e diziam ser impossível,contrariava toda a família e até os músculos, a solidão , o medo que sentia e tentava enfrentar, restava-lhe saber -em prol de quê ? E porquê!? Talvez nunca obtivesse resposta a esta pergunta,
Entretanto estava de regresso a casa, á família, ao conforto e ao trabalho, rendido momentaneamente, mas não vencido, as serras, os caminhos, os trilhos e as paisagens, as falésias de cortar o fôlego ainda esperariam e seriam suas e ele faria parte delas e ele sonharia de novo e sempre o sonho de ser parte da natureza e partilhar o mesmo ar que esta respira
O destino dele era ser Transhumante
Jorge Santos / Transhumante
Abril 2010