quando me comovo...






Quando me envolvo na fractal distância,
Comovo-me como uma borboleta,

Que duvida de si própria;
Sinto-me envolvido
D’uma forma total, embora sem peso
E me lembro d’outra realidade

Que antes não era tão real.
Imagino-me alternando entre neve e incógnita
E o acaso depois governa no cair
O meu ser solvente.

Termino numa terra distante, em tarde branda,
Tento ignorar a presença aleatória
Da consciência;
Perdida que foi a Memoria da névoa.

Farei um poema quando nada restar de seu,
Num universo convicto,
Sem a emoção nem o claro segredo,
Mas cuja realidade revestida, lembrará um luminoso céu.

Quando me libertar, envolver-me-á numa nitidez,
Sem corpo nem espírito
E sossegará o movimento do universo
Com o bater d’asas d’uma simples borboleta…

Jorge Santos (12/2011)


Cycles


Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.


"Boulevard du Temple"


O  “Boulevard du Temple” de Louis Daguerre é uma foto muito conhecida, é considerada a primeira fotografia em que aparece uma figura humana.  A chapa de prata representa a “Boulevard du Temple”, fotografada por Duagerre a partir da janela do estúdio num momento agitado no meio-dia.  A avenida deveria estar repleta de pessoas e carruagens, as câmaras no tempo, necessitavam de um período de exposição extremamente longo, absolutamente nada dessa massa em movimento é visível.  Nada,  isto é…excepto uma pequena silhueta negra na calçada no canto inferior esquerdo da fotografia.  Um homem parou para engraxar os sapatos,  e deve ter parado por um bom espaço de tempo,  com a perna ligeiramente levantada para colocar o pé sobre a cadeira de engraxe.

“Ele não poderia ter imaginado melhor o Juízo Final.  A multidão de seres humanos  – (na verdade, toda a humanidade)  - está presente,  mas não pode ser vista,  porque o julgamento diz respeito a uma única pessoa,  uma única vida: precisamente este,  e não outro.  E o que que a vida, essa pessoa,  foi escolhido para fora,  capturado,  e imortalizada pelo anjo do Juízo Final - que também é o anjo da fotografia?  Ao fazer o gesto mais banal e comum, o simples gesto de engraxar os sapatos No instante supremo, o homem…cada homem,  é doado para todo o sempre pelo menor gesto E, no entanto, graças à objectiva fotográfica,  aquele gesto agora é cobrado com o peso de toda uma vida;  aquele momento insignificantes celebra e condensa em si o significado de uma existência inteira” …
(Giorgio Agamben, Profanações)

Tenho saudades de quase tudo
Sobretudo do que não esqueci…

Serra Mãe


LA mariposa volotea
y arde —con el sol— a veces.

Mancha volante y llamarada,
ahora se queda parada
sobre una hoja que la mece.

Me decían: —No tienes nada.
No estás enfermo. Te parece.

Yo tampoco decía nada.
Y pasó el tiempo de las mieses.

Hoy una mano de congoja
llena de otoño el horizonte.
Y hasta de mi alma caen hojas.

Me decían: —No tienes nada.
No estás enfermo. Te parece.

Era la hora de las espigas.
El sol, ahora,
convalece.

Todo se va en la vida, amigos.
Se va o perece.

Se va la mano que te induce.
Se va o perece.

Se va la rosa que desates.
También la boca que te bese.

El agua, la sombra y el vaso.
Se va o perece.

Pasó la hora de las espigas.
El sol, ahora, convalece.

Su lengua tibia me rodea.
También me dice: —Te parece.

La mariposa volotea,
revolotea,
y desaparece.

Transhumante Parte 3 /Diário de um Louco

por favor não mintas,
não leves a mal
mas não digas que me amas sequer,
quando eu escrever no muro de pedra e cal
do comentário rosa, local
sentirei então na pele
que sou anormal
se nem escrever sei
(vivi um dia... sem tema
e no outro mundo viverei sem enredo
nem vida...no necrotério do jornal)

por favor não me mintas sequer
pois as mentiras são como rugas
no papel... sem tréguas
são cegas ..sem critério..são meras
paredes de branca cal e pedra informal
não digas que me amas
sou apenas um tipo "normal"
que não quer que lhe mintam
(não leves a mal)

Jorge Santos 22/9 -2011

Quão diferente de humano é ser gente

"Moro em minha própria casa
Não imito niguém
Rio-me de todos em mestres
Que nunca se riram de si"


Quão diferente de humano é ser gente

 que sei d'amar-te
é de tal-modo insensato
e incoerente que de facto
não sei se é falso ou fraude
o repto que deixo ou ouço
ou se o resto que m'arrasta dest'alma
 até marte e pr'alem, amar-te pra outra dimensão ,
não esta e não minha, se é fala só
e se não é meu o falso rasto
que fica nesta farsa
neste aparte nesta frase
nem sei se de facto a possa considerar rasto,
 eu só sei que sinto  parte dest'alma que s'evade da minha fraude, neste mundo em falso.
se deixei correr a minha mão dest'modo sei que foi um anjo que me guiou,anjo insensato
anjo humano, quão diferente de gente

Jorge santos

Deuses Mortos


São assim ocos, rudes, os meus versos,todos eles
com eles eu quis homenagear os céu vivos,lindos,
com eles eu quiz fazer um pacto com zeus e outros
foi no vento torto do Monte Olimpo
usei Rimas perdidas, vendavais dispersos,
tudo serviu de manifesto
posto em versos impios e incertos
Com que eu iludo os outros, com que minto!com que peco
são assim, ocos e rudes os meus versos
tão secos que nem vento do suão
tão sós que nem sinto a voz
pra falar com Deuses mortos
da paixão que não sinto nos meus pobres versos...

(J.S.)

Postais


falho tantos planos
que os meus enganos
se tornaram editais
e são meros postais 
distribuídos pelos correios
todos os fins d'ano de todos os anos
(pra evitar q'outros cometam os mesmos)

Gosto dos Silêncios Muitos,coisas... poucas

Gosto das coisas poucas e dos silêncios muitos,
habito os cimos
dos cumes das minhas vivências, são poucos
e intimos
os momentos em que peço devolvidos os sonhos
depois imito-os 
e muitos dos silêncios devolvo-os aos pinheiros
de neve com  píncaros brancos
ou aos caminhos (aos que chegarem primeiros)
e terrenos de névoa envoltos
e ao meu coração pra sempre solteiro de sentidos
vindos de longe muito... muito longe
e prenhe de multidões de barulhentos sonhos ,nem todos meus,
mas d'outros mundos 
d'outros monges cavaleiros ...caminhando ,caminhando,caminhando...



Jorge Santos

Desiderata

Desiderata poem de Max Ehrmann

Go placidly amid the noise and haste,
and remember what peace there may be in silence.

As far as possible without surrender
be on good terms with all persons.
Speak your truth quietly and clearly;
and listen to others,
even the dull and the ignorant;
they too have their story.
Avoid loud and aggressive persons,
they are vexatious to the spirit.

If you compare yourself with others,
you may become vain and bitter;
for always there will be greater and lesser persons than yourself.

Enjoy your achievements as well as your plans.
Keep interested in your own career, however humble;
it is a real possession in the changing fortunes of time.
Exercise caution in your business affairs;
for the world is full of trickery.
But let this not blind you to what virtue there is;
many persons strive for high ideals;
and everywhere life is full of heroism.

Be yourself.
Especially, do not feign affection.
Neither be cynical about love;
for in the face of all aridity and disenchantment
it is as perennial as the grass.






Take kindly the counsel of the years,
gracefully surrendering the things of youth.
Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.
But do not distress yourself with dark imaginings.

Many fears are born of fatigue and loneliness.

Beyond a wholesome discipline,
be gentle with yourself.
You are a child of the universe,
no less than the trees and the stars;
you have a right to be here.
And whether or not it is clear to you,
no doubt the universe is unfolding as it should.

Therefore be at peace with God,
whatever you conceive Him to be,
and whatever your labors and aspirations,
in the noisy confusion of life keep peace with your soul.

With all its sham, drudgery, and broken dreams,
it is still a beautiful world.
Be cheerful.
Strive to be happy.

não mudo

Tenho em mim todos os sonhos do mundo mas não me sonho de sobretudo e mudo num canto qualquer escuso da escada e do mundo e,no fundo ...não mudo,não mudo...

O fim dos tempos



Fazem-me falta as palavras
Que não entendo,
Para escrever cartas
Sem remetente,
Faz-me falta a inacção,
Para não me encontrar em cada esquina,
De rua e quarteirão
E não ter de falar,
Da saudade que dizem sempre vem
Ou da chuva que não cai porque se esqueceu,
Faz-me falta o abismo
Estremo.

Joel-Matos (12/2010)
http://namastibetpoems.blogspot.com