Não me peçam o mesmo...




Não me peçam os mesmos discursos maduros
Se tudo o que mais quero são silêncios
Translúcidos e puros, todavia mais duros
Que insultos e tão suaves, tão sóbrios…

Tão líquidos, quanto sublime e belo
Há, no nascimento excessivo de um dia.
Não trago novidades ao colo, nem arquivos nos olhos,
(porque razão as traria?) nem choro, de lasciva alegria,

Descontente dos sonhos, que em mim s’impregnam
Sem os conseguir ver…
Não me peçam, não me peçam
O sol se o que quero é… só chover.

Jorge Santos (Julho 2013)

Areais de Portugal


São de areia e sal
feitas as praias,os cais
de pedra e cal e as ameias
dos castelos,
as lágrimas deste Portugal,
apenas água e pouco mais,,,

Jorge Santos

Se vou morrer...



Se vou morrer que seja a murar
em volta o mar que há ainda em
mim…
Se vou morrer quero de volta
as lágrimas que no mar
abandonei faz tempo…
Se vou morrer não lamento
ter o jeito
no coração dum mar
tormento

Sinto no meu ser um doce imenso,
Que, de verdade não posso ver,
Pois o sal não me dá descanso,
Apesar de, longe do mar os olhos eu ter... 

(Jorge Santos)


Caíu-me o olhar...


Caiu-me o olhar bem no meio do mar rasgado
Era manso e cálido, instável
Apesar do bafo leve e paciente, sem peso
Um lugar onde nada de novo acontece
Além da cólera da espuma e do céu...
Deixai-me cair e molhar-me
Onde o amor nem habita
nem ha-de habitar nada de meu...

Jorge Santos

O tempo não conta...


não conto o tempo
porque ele pode parar
o meu pensamento
como um mar sem vento,
não conto o tempo
porque haveria de contar
tendo estrelas no tecto
e paredes de ar,
não conto o tempo
de vida pra me libertar
porque haveria ele de parar ?
se nem o mar sabe a vento
 d' encostar o ombro
um no outro,
não conto o tempo que vem
porque ele me tem  
num estendal, bem preso
com molas de ar...

Jorge Santos

Não tenham pena de mim...


Por favor não tenham pena de mim, eu sou minoria entre muitos outros mas sou e vou estar sempre no meio de minorias ...eu vou pra onde as vão minorias, sinto o que as minorias sentem... se maioria em mim eu sou e o universo sorvo quando as mãos junto...
J.S.

Só podem...


Só podem ser tréguas d' arcanjos
As q'ouço e com as quais m’embalo
Mas tem cuidado
Pois faço do meu ralho profissão 
E do lado maldito 
Coabito com “o Demo”, desterrado; um sem-abrigo,
Varados por visões de pragas e pregos
Com as minhas almas gémeas …com os meus caretos

Se ao menos escrevesse versos pequenos
E claros 
De espécies normais e menos secos
Não passaria por doido
Varrido…só podem ser tréguas
D’algum Anjo que viu o outro lado…enfim… 

Só podem…